Memória poética...
PIRACURUCA
Luiza Amélia de Queiroz Nunes
A minha terra querida
Que amo sem conhecer,
Vou um canto de ternura
Commovida lh'off'recer:
Tu, ó anjo da saudade,
Vem com tua amenidade
Repassar o canto meu;
Vibra-me as cordas da lyra,
Ensina a minh'alma, inspira
Uma harmonia do Ceu...
Minha terra, que saudade
Sente meu peito por ti!
Ai, que desejo não tenho
De ver aonde nasci!
Que saudade ! Quer a sorte
Que eu nunca beije em transporte,
O teu seio tão gentil,
P'ra onde voa, querida,
A minh'alma confundida
Com ternos suspiros mil!
Mas que importa a filha tua
O rigor do fado seu?
Se a phantasia nas azas
A transporta ao solo teu?
N'esse sonho vaporoso,
Mas inda assim tão ditoso
Tão poético e seductor,
Ella em lágrimas desfeita,
No teu seio a fronte deita
Perdida, doida de amor!
Qual a brisa gemedora
No seu giro matinal
Que beija uma por uma
As lindas flores do val;
Minh'alma na doce scisma,
Nos teus thesouros se abysma,
Percorrendo-as sem cessar!
Teus rios, tuas doces fontes
Teus prados gentis, teus montes
Ella beija aos contemplar!
Ella vê o campanário
Da tua bela matriz
Anhelante, commovida
Chora e ri-se!... é tão feliz!
Ella se prostra humilhada
Ante a Virgem Imaculada
E murmura uma oração;
Em sua mãe pensa e chora,
E a Virgem Mãe ella implora
Que lhe dê a salvação.
Ella oscula a pia santa,
Aonde christã se fez,
Essas sagradas relíquias
que não vio mais que uma vez!
Ella sente de ternura
Uma tão doce ventura,
Que exprimir não pode, não!
Mas nos seus olhos há pranto;
Mas esse é suave e santo,
E vindo do coração.
Mas, ah! ó terra querida,
Emblema doce de amor!
Tudo isso é sonho, é nada,
Mas sonho que augmenta a dor!
De que serve delirante,
Na phantasia anhelante
Tentar e buscar-te vêr;
Se minh'alma entristecida
Suspira que n'esta vida
Não terei esse prazer!
Aceita, pois, meus amores,
Este doce e triste adeus,
Que fugindo da minh'alma,
Soluçou nos lábios meus;
Como elle, minha querida,
Uma parte d'esta vida
Que se definha de dor!
É uma lágrima saudosa,
Espontânea, tristurosa,
Mas orvalhada de amor.
25 de dezembro 1870.
(NUNES, Luiza Amélia de Queiroz. Flores Incultas. Parnahyba: Typ. Paiz. Imp. M. F. V. Pires, 1875)
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