Memória Poética...
CONSELHOS
Luiza Amélia de Queiroz
Não me julgues feliz, ó donzela,
Não me invejes querendo imitar;
D'esta vida que julgas tão bela,
Deus te livre das dores provar.
De que serve a mulher n'esta terra
Ter na mente sublime ideal?
P'ra sofrer de mil néscios a guerra
Crua guerra, tremenda e fatal?
Oh! Aqui não se acata a virtude
Se - o gênio - na fronte transluz!
Tem incensos aqui quem é rude,
Quem não vaga no mundo da luz!
Oh! Por Deus, não empunhes a lira,
Não te cegue o seu brilho vivaz -
Essas flores que a alma respira
Têm espinhos, venenos letais!
Oh! Não saias ócio ditoso,
Em que vives contente a sorrir;
Não alteres teu doce repouso,
Não perturbes teu belo porvir.
Tenho lira, que arpejo por vezes,
- É presente me vindo do céu -
Mas, por tê-la, suporto revezes!...
Não os queiras provar como eu.
Qual o louro que a fronte me cinge?
Qual a glória que eu posso alcançar?
N'esta terra que trama-se e finge
O que posso de bem esperar?
Uma coroa de pálidas flores
- Diadema que pouco seduz -
Como prêmio de tantos labores,
E cair abraçando uma cruz?
Será isso, donzela inocente,
Que te inflama! Delírio cruel!
Não me ouças a lira demente,
Nos meus carmes não há senão fel!
Não me creias da sorte mimosa,
Não me invejes querendo imitar;
D'esta vida que julgas ditosa
Deus te livre as dores provar.
1º de maio de 1871.
(QUEIROZ, Luiza Amélia de. Flores Incultas. 2ª ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras (APL), 2016; p. 141-142).
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