Memória prosaica...
NAS PEGADAS DOS ÍNDIOS
Erich von Daniken
Partindo de Teresina, 160 quilômetros de estrada firme levam até Piripiri. A paisagem é plana e intensamente verde; nas beiras da estrada há uma faixa de espinheiral passando para densa vegetação tropical. Queixadas, gado e cavalos selvagens ocasionalmente atravessando a pista, tornam o tráfego de veículos um tanto perigoso. Apesar da região localizar-se quase em zona equatorial, o clima é tolerável, pois constantemente chega uma brisa do mar, 300 quilômetros distante de lá. De Piripiri, 16 quilômetros de estrada rural, permitindo o tráfego de jipes, levam até "Sete Cidades". De repente e despreparado para tal encontro, depara-se a primeira ruina.
Aliás, é impróprio usar o termo ruínas, pois lá não se aplica. Inexistem restos de pedras, espalhadas de maneira desordenada que, outrora poderiam ter sido dispostos em construções regulares. Inexistem, igualmente, monólitos com cantos agudos e encaixes artificiais, conforme são encontrados no planalto boliviano, em Tiahuanaco. Nem procurando de maneira mais metódica possível e recorrendo à fantasia mais fértil e imaginosa, seriam discerníveis ali, degraus, escadas ou ruas, em cujas beiradas, antigamente, teria havido casas para morar. "Sete Cidades" constitui um só caos enorme, igual a Gomorra, aniquilada pelo fogo do céu. Ali, as pedras foram destruídas, torradas, fundidas por forças apocalípticas. E deve fazer muito, mas muito tempo, que as chamas vorazes completaram a sua obra de destruição total.
Neste local, jamais pessoa alguma tratou de escavar.
Lá, a ciência jamais tentou retirar estrato após estrato do passado remotíssimo, esculpido em pedra.
Igual a pontos de interrogação, pedras de forma bizarra e monstros articulados britam do solo.
Um especialista no assunto, designado pelo Governador do Piauí como meu acompanhante, para o tempo de minha visita lá, informou que, supostamente, "Sete Cidades" teria adquirido suas formas tão estranhas e esquisitas por sucessivos depósitos de camadas de geleiras. Talvez seria esta a sua origem. Mas, pessoalmente, acho difícil aceitar tal teoria, visto que, em toda parte do Mundo - e disto tenho conhecimento pleno por ser natural da Suíça - ao recuarem as geleiras deixam em sua esteira uma larga faixa de pedras de erosão, como sua marca indelével. Ali inexistem tais marcas; "Sete Cidades" cobre um círculo de 20 quilômetros de diâmetro.
Meu acompanhante ofereceu ainda outra suposição, a saber: Outrora ali teria existido um golfo marítimo e "Sete Cidades" representaria os restos de pedras lavradas pelas águas que, posteriormente, teriam adquirido suas formas extravagantes, pela ação do vento e pelas mudanças de temperatura. Pode ser. Por que não?
Já vi as construções mais singulares e fantásticas, edificadas pelo capricho insondável e infinitas possibilidades criadoras da natureza. São incrivelmente grotescos e maravilhosos, o Vale da Morte, nos Estados Unidos, a catedral salina, na Colômbia, o caldeirão de granito, na Bolívia, as formações do terreno, bizarras e quase arquitetonicamente articuladas do Mar Morto. São muitas e esquisitíssimas as obras executadas pela grande construtura que é a natureza. Em "Sete Cidades", porém, tive a impressão de tratar de coisa diferente, totalmente inexplicável.
No mapa oficial de "Sete Cidades", aparecem nitidamente as sete separações das "ruínas" em sete regiões distintas. Teria sido por acaso? Por um capricho da natureza? Pessoalmente, não posso aceitar tanta coordenação planejada, como produto de forças naturais, incontroláveis, mas sim, antes suspeitaria de um plano racional, que, em uma época qualquer teria dado origem a essa disposição. Aliás, um detalhe que mais me intrigou foi a massa metálica, esparelada, esprimida, aparecendo entre as camadas de pedras, cujos vestígios de ferrugem, em lágrimas alongadas, descem pelas paredes. Em todo aquele caos, tal particularidade reaparece com muita frequência e regularidade. Talvez fosse possível achar uma explicação geológica para a "Tartaruga", atração especial de "Sete Cidades"; no entanto, por falta de estudos, nada há de concreto. Mesmo que a origem de "Sete Cidades" fosse e continuasse sendo inexplicável, as pinturas rupestres constituem fatos concretos; podem ser vistas palpeadas e fotografadas. E nem pode haver dúvida a respeito de tais pinturas serem de datas bem mais recentes do que os monumentos rígidos, em pedra decomposta. "Sete Cidades" tem dois passados, um antiguíssimo, que, bem provavelmente, jamais poderá ser reconstituído, e "outro" moderno, porém de data pré-histórica.
E ali acontece o que está acontecendo em tantos outros lugares: ninguém pode fazer ideia de quem teria coberto aquelas paredes com pinturas rupestres. Todavia, logo se nota que os artistas pré-históricos - como umas poucas exceções - preferem motivos idênticos aos encontrados nas pinturas rupestres, em cavernas em redor do Globo, representando círculos - a roda (com raios) - o sol - círculo dentro do círculo, quadrado dentro do círculo - variação de cruzes e estrelas. Parece que em toda a parte, inclusive nos lugares mais remotos, os artistas pré-históricos se formaram em uma só academia de arte.
Na lista das celebridades que visitaram "Sete Cidades" inclui-se, também Jacques Mahieu, francês de nascimento, todavia diretor do Instituto de ciências do Homem de Buenos Ayres. Em agosto de 1975 esteve aquele cientista em Piracuruca a fim de realizar demoradas pesquisas no ambiente do Parque Nacional de Sete Cidades. Em 1976, Jacques Mahieu lançou em Paris um livro que permanece inédito no Brasil, afirmando que o Piauí teve a visita de navegadores Vikings. As provas alegadas pelo cientista são as numerosas inscrições rupestres encontradas nas Sete Cidades, no alpendre de um grande abrigo da Serra Negra.
(DANIKEN, Erich von. Nas Pegadas dos Índios. In: BITENCOURT. Jureni Machado. Apontamentos Históricos da Piracuruca. Teresina: Comepi, 1989;
p. 197-200)
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