Memória poética...
DOR
Luiza Amélia de Queiroz Nunes
Meu Deus! É delírio!...
Que agro martyrio
Ferio este lyrio
Que dobra-se em flor!
O olhar indeciso,
Errante ou conciso,
A boca sem riso,
Os lábios sem côr!
A voz emudece,
O riso emurehece
O todo enlanguece,
Ignoto penar!
Quem soffre em segredo
Não pode ser ledo
Qu'a magoa tem medo
De prazer mostrar.
A dor quando vela
N'uma alma singela,
Se trahe, se revela
Na minima acção;
Transborda do peito,
Que é espaço estreito,
Se pinta no aspeito
Com langue emoção.
A face sem vida!
A fronte pendida!
A pálpebra cahida!
Sem fogo o olhar!
Signaes evidentes
De lágrimas quentes
Se fazem soltar!
Inda hontem sorria
Com doce magia,
Sonhava, sorvia
Perfumes de amor!
Flor innocente
Na aurora ridente
Se dobra gemente,
Desmaia de dor!
Flor suspirosa,
Na hastea mimosa
Não morras formosa;
Descrestes assim?
A aragem te rende,
Seus lábios atende,
A aurora rescende
Perfuimes sem fim.
(NUNES, Luiza Amélia de Queiroz. Flores Incultas. Parnahyba: Typ. Paiz. Imp. M. F. V. Pires, 1875; p. 121-123).
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