quinta-feira, 8 de setembro de 2016


Memória Poética...






O TEU AMOR


Luiza Amélia de Queiroz Nunes






O teu amor! é engano,
Não é caprichoso arcano,
Não o sente o coração;
É o delírio de um dia,
Momentanea phantasia,
Mas nunca real paixão.

O teu amor! É a brisa
Que passa leda e concisa
Em giro breve e sutil;
É borboleta que adeja,
E na campina doideja
E vive de sonhos mil.

O teu amor! se rutila,
É luz que treme e vacilla
Por noite fria e cruel;
Abelha que suga as flores
Encanto, nectar, odores
E vive de gozo e mel.

O teu amor! é a luz
Que no céu brilha, e fluctua
Por sobre a face do mar;
É raio de sol estivo,
Que luz inquieto e festivo
E no poente vai dar.

O teu amor! é um sonho,
Ora triste, ora risonho,
Mas sonho não é real;
É um incerto suspiro,
que se perde no retiro,
Em busca de um ideal.

O teu amor! é a rosa
Com seus espinhos, vaidosa,
Durando como essa flor;
É vario como a ventura,
Como um voto de ternura
Por quem desconhece amor.

O teu amor! é estrella
Que luzio fulgaz e bella
Em noite de temporal;
é o pobre nauta perdido,
Em breve instante iludido
Julgou vêr n'elle um fanal.

O teu amor! quem me dera
N'esta linguagem sincera
Dizer-te como elle é;
É o capricho d'um dia,
Sonho, illusão, phantasia
que não se deve dar fé.



(NUNES, Luiza Amélia de Queiroz. Flores Incultas. Pharnahyba: Typ. Paiz Imp. M. F. V. Pires, 1875; p. 303-305).

   
 

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