Memória Poética...
NÃO QUEIRA, POR DEUS, AMAR
Luiza Amélia de Queiroz
Cuidado, virgem, cuidado,
Com teu terno coração,
Se avizinha a tempestade,
A tormenta da paixão;
E sabes tu, inocente,
O que seja amar veemente,
D'amor, d'amor delirar?
Não sabes, não... bem o sinto;
Mas acredita, não minto,
Não queiras, por Deus, amar.
Oh! se soubesses que dores
Traz essa paixão veloz,
Quando n'alma predomina
Da razão calando a voz!
Fugirias com cautela,
D'essa centelha tão bela,
Que em vulcão se vai tornar!
Enquanto é tempo medita,
Não te entregue-se à desdita,
Não queiras, por Deus, amar.
Este terno sentimento,
Ora belo e sedutor,
Logo mais será origem
De martírio aterrador:
O amor só tem doçura
Enquanto é fraca a ternura
Que se pode dissipar;
Quando cresce, quando avulta,
É uma paixão estulta
Que pode... foge d'amar.
Quando a alma cede ao peso
Da doce pressão cruel,
E a mente se incendeia,
E os lábios gotejam fel;
O amor belo sonhado,
É um martírio provado,
Que pode à morte levar...
Oh! foge a esse tormento
Que aliena o pensamento...
Não queiras, por Deus, amar.
(QUEIROZ, Luiza Amélia de. Flores Incultas. 2ª ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras (APL), 2016; p. 105-106).
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