Memória prosaica...
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO
Odilon Nunes
Quando
o padre Tomé de Carvalho edificava a igreja de Nossa Senhora da Vitória,
concomitantemente às margens do rio Piracuruca, afluente do rio Longá,
construía-se majestoso templo que guardaria por muitos anos sua primazia em
beleza arquiteturial.
Essa
parte do Piauí seria a última a ser conquistada, afora as regiões do Alto
Gurguéia, e ainda as do Alto Parnaíba, nos confins de Goiás e Maranhão. Os
índios que as habitavam eram guerreiros audazes, e defenderam com bravura suas
tabas encravadas nas alagoa, brejos e ribeiras, ticas em caça e pesca. Só
lentamente se processou a penetração dos currais nessa área banhada pelos rios
Longá, Maratauã e Piracuruca.
No
Piauí continuava a disputa pelo domínio da terra, entre indígenas e
devassadores dos sertões. Ao transformarem-se estes em colonos, deflagra a luta
com os latifundiários domiciliados na Bahia e Pernambuco, amparados estes em
autoridades venais.
Esses
latifundiários convertem-se em parasitas que exploram o trabalho dos que em
luta acerba e cruenta devassam, conquistam e colonizam os rios e campos do
Piauí, sob a opressão e ganância dos poderosos.
Fazia
bem pouco tempo que da capelinha de Nossa Senhora da Vitória havia sido
expulsos o padre Tomé, que teve destruída sua casinha por Domingos Afonso
Serra, sobrinho de Mafrense.
Não
fazia muito que Garcia D’Avilla, a quem era associado Mafrense, destruíra as
residências e igrejas de Itapecuru, Geremoabo e dos Caimbés.
Para
Lisboa, seguiu o padre Carvalho com o objetivo de tomar a defesa dos índios,
dos colonos e da mesma igreja. Levava o apoio das autoridades eclesiásticas do
Maranhão e carta de D, Francisco de Lima, que também se associara à defesa dos
oprimidos e à reinvindicação de seus direitos.
D.
Antônio de Sousa Leal, do Hábito de São Pedro, que vinha se dedicando à ação
religiosa no Piauí e Ceará, também seguiu para Portugal, no cumprimento de seu dever
apostólico.
Como
consequência das reivindicações desses missionários, o Piauí passa a depender
do Estado do Grão-Pará e Maranhão, e tomaram-se as primeiras medidas para
demarcar os limites das sesmarias, pois os sesmeiros da Bahia e Pernambuco haviam
exorbitado de seus direitos, convertendo-se em verdadeiros donatários de todo o
sertão do Piauí.
Desde
a abertura da estrada para São Luís, por João Velho do Valle, ainda no tempo da
implantação dos primeiros currais, ficara livre o trânsito para o litoral
maranhense. É que ainda se fazia sentir a ação do Arraial dos Paulistas.
Um
pouco antes da criação da vila do Mocha, os indígenas se rebelaram contra os
que conquistavam e ocupavam suas terras, sustando assim a instalação da vila,
que deveria ser logo após 1712. Foi, então, nomeado para reduzi-los à paz o
mestre de campo Antônio da Cunha Soutomaior, fazendeiro e residente na fazenda
Caraíbas, da bacia do Canindé, morto aleivosamente no Maranhão pelos índios que
comandava.
É
quando surgiu Mandu Ladino que promove a insurreição geral dos indígenas do
Maranhão, Piauí e Ceará, perturbando o sossego da região do Longá. É quando
também vai abandonada a Vila Velha da Parnaíba, fundada por Pedro Barbosa Leal.
Residia,
então, na fazenda Bitorocara às margens do rio do mesmo nome, o capitão
Bernardo de Carvalho e Aguiar, que seria nomeado mestre de campo em
substituição a Antônio da Cunha Soutomaior. Esses dois fazendeiros já residiam
no Piauí quando da fundação da igreja de Nossa Senhora da Vitória.
O
mestre de campo Bernardo de Carvalho e Aguiar abandona sua Bitorocara e assume
o comando das forças, logo após 1713.
Com
a morte de Mandu Ladino nas proximidades do Delta do Parnaíba, declina a luta
no Piauí.
Vai,
então, instalada a vila da Mocha em 26 de dezembro de 1717, no local em que
estava a igreja de Nossa Senhora da Vitória. O Piauí passa a comarca e seu
primeiro ouvidor é o doutor Vicente Leite Ripardo, que mais tarde iria servir
em Itú (São Paulo).
Prossegue,
entretanto, a luta no Maranhão. Bernardo de Carvalho passa, então, a residir às
margens do Parnaíba.
É
nessa fase de nossa história que se reinicia a conquista da bacia do Longá.
Paulatinamente se fez a ocupação da bacia deste rio.
Quando
o padre Carvalho escreveu sua Descrição
dos Sertões do Piauí, em 1697, não se referiu ao rio Longá e ao rio
Piracuruca. Refere-se, entretanto, aos índios Alongás que estavam, na época, em Ibiapaba, para onde foram
corridos, sob a pressão dos curraleiros.
Esclarece, na sua descrição, escrita em Mocha, que a terra dos Alongás ficava para o lado de lá das vertentes dos afluentes do rio Poti (que ele
apelidava de Itaimaçu) wm rimo do norte. Longá, como designativo de rio, não
aparece. Encontramos Maratauã como rio principal da bacia, e tendo como seus
tributários o Cobra e o Bitorocara. Já tem 9 currais e 21 habitantes. Tudo
indica que o Bitorocara, onde residia Bernardo de Carvalho, é o atual
Piracuruca. A região do sul desse rio era ainda inexplorada e deveria ter
remanescentes dos indígenas expulsos do Poti pelos colonizadores.
Se
não foi anteriormente, com certeza foi nesses dias que os irmãos Manoel e José
Dantas, ambos portugueses, penetraram no Piauí.
Com
referência a eles, pouco encontramos, apenas informações nascidas da tradição
oral. Contudo, deixaram indeléveis pegadas em nossa terra, que os tornam dignos
de rememorações.
O
templo que se edificava às margens do rio Piracuruca, segundo uma lenda que se
vem repetindo através dos anos, teve sua origem num voto a Nossa Senhora do
Carmo, feito pelos dois portugueses que, em começo do século XVIII, realizaram
uma entrada na bacia do Longá, em busca de terras para a fundação de currais.
Foram aprisionados pelos indígenas e, segundo a lenda, condenados à morte.
Vejamos
como Pereira da Costa narra a história:
Manuel
Dantas Correia e seu irmão José Dantas Correia, ambos portugueses e bastante
ricos, empreendendo em princípio do século XVIII uma viagem de exploração ao
interior do Piauí, caíram prisioneiros dos índios que o habitavam; e
reconhecendo a sorte que os aguardava fizeram um voto a Nossa Senhora do Carmo
de edificarem um suntuoso templo no próprio lugar em que se achavam presos se
ela os livrasse das mãos dos bárbaros indígenas.
Ouvindo
tão justo apelo e recobrada a suspirada liberdade, deram-se pressa aos irmãos
Dantas Correia em cumprir o voto; e de fato, em 1743 começaram a construção da
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, atual matriz da freguesia de Piracuruca, um
dos templos mais belos e custosos que possui o Estado. Os irmãos Dantas Correia
não pouparam despesas nem sacrifícios na construção de tão belo monumento, e
por sua morte legaram todos os seus bens para o patrimônio da Igreja, que é
ainda hoje riquíssimo e avultado.
O
templo mede 30 metros de extensão sobre 18 de largura, é todo ornado tanto
interna quanto externamente, de elegantes colunas de pedras lavradas, que
formam à entrada um belo peristilo. Constando de três capelas e cinco altares,
elegantes e artisticamente dispostos, primando pela escultura, pintura e obras
de talha, nota-se ainda muitos outros objetos custosos e de subido merecimento
artístico, como a pia batismal, o púlpito, um lavatório de mármore, lâmpadas de
prata e outras alfaias e paramentos dignos de nota.
Os
bens patrimoniais da Igreja, segundo uma descrição e avaliação feitas em 1871,
constam de uma data de terras denominada Veados, avaliada em 6:000$000; e uma
dita Boqueirão, de igual valor; uma dita Batalha, no de 4:000$000; todas
situadas no termo de Piracuruca; e no recinto da própria vila outra fazenda, do
Sítio, onde está colocada a Matriz, meia légua de terras no valor de um conto
de réis; e no termo de Batalha, uma data denominada Macambira, no valor de
10:000$000, sendo todas essas terras, que representam, reunidamente, uma
extensão de doze léguas e meia, próprias para criação e plantação nas quais se
acham situadas as oito seguintes fazendas: Monte, Macambira, Curral dos
Cavalos, Veados, Perus, Boqueirão, Pitombeira e Batalha, cujo patrimônio é
exclusivamente administrado pelo vigário da freguesia, em virtude de provisão
do bispo diocesano do Maranhão.
Data,
portanto, de princípio do século XVIII a povoação de Piracuruca.
Assim
nasceu a cidade de Piracuruca; teve sua origem, como a de Oeiras, na fundação
duma capela que, em obediência à sua destinação, tornar-se-ia freguesia, vila, cidade,
comarca.
Não
se sabe ao certo quando foi oficialmente criada a freguesia, o que talvez haja
ocorrido, quando o Piauí eclesiasticamente ainda dependia do bispado de
Pernambuco.
Pereira
da Costa registrou a informação colhida em Figueira de Melo de que, em 1723, no
Piauí, já havia três freguesias: Oeiras, Piracuruca e Longá (Campo Maior).
Quanto a Oeiras, não há constatação. Com referência a Piracuruca e Longá (Campo
Maior), não foi fixada a data, senão o ano. Convém ter sempre em mente que
alguns autores deram como criados oficialmente os curatos que o padre Tomé ia
estabelecendo nas ribeiras mais longínquas para melhor atender a religiosidade
de seus paroquianos. Esses curatos foram consignados no Diário da Viagem, de Maia da Gama, em 1728.
Pereira
da Costa ainda registra que, em 1740, o padre José Lopes Pereira já era vigário
de Piracuruca.
Já
que ingressamos na área da tradição oral, conheçamos também o que nos diz
Josias de Morais Melo, nosso contemporâneo, procurador da Irmandade de Nossa
Senhora do Carmo, de Piracuruca, Irmandade que, então, já administrava os bens
da mesma igreja de Nossa Senhora do Carmo.
Cremos,
entretanto, que as informações que dá, hoje, arquivada no serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, foram colhidas, em grande parte, se não mesmo
todas, em documentos dos arquivos da própria Irmandade, bem como da igreja de
Piracuruca. Seu depoimento merece atenção.
Logo
no começo de seu relatório, entra em choque com Pereira da Costa, quando diz
que a construção dos irmãos Dantas começou em 1718, e que a igreja ficou
preparada para o culto em 1743, enquanto Pereira da Costa informa que nesse ano
de 1743 é que teve começo a construção. Parece que a informação de Josias se
aproxima melhor da realidade.
Vejamos
um tópico de seu depoimento:
A
construção da igreja data do começo de 1718 e ficou em 1743 preparada para o
culto. A construção foi mandada fazer pelos irmãos Manoel e José Dantas
Correia. Por volta de 1750, quando morreram os irmãos Correia, a igreja estava
com reboco. Não tinha as torres, até então; existiam, apenas os coruchéus. Internamente,
a igreja era toda forrada com obra de talha, e o teto e o altar-mor eram
dourados. Em 1801, foram retiradas as linhas das tesouras, e, em seu lugar,
colocadas tirantes de ferro. Esses serviços foram mal executados, e, fez com
que abrisse a parede do lado direito de quem entra na Igreja; e o teto desabou.
Nessa
ocasião a confraria da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, de Piracuruca,
vendeu em pública hasta a fazenda Brejinho (município da atual Batalha),
patrimônio da Santa, segundo o legado dos Dantas, e, com o resultado dessa
venda, reconstruíram a igreja, não colocando mais forro e fazendo pináculos das
torres. Até 1893, a administração da Igreja e de seus bens pertenciam à
confraria.
De
1893 a 1906 passou a ser administrada pelo bispado do Maranhão, e de 1906 em
diante, pelo bispado de Teresina, digo do Piauí, época em que foi criado. De
1801 a 1850 a Igrejas foi abandonada, embora o bispado arrecadasse as rendas
das fazendas Macambira, Boqueirão, Veados e Batalha.
Em
1910 o Bispo do Piauí Dom Joaquim Antônio de Almeida vendeu a Raimundo
Rodrigues Lima as fazendas Macambira e Boqueirão, e a seu irmão Antônio
Herculano Rodrigues Lima a fazenda Batalha, todas pela quantia de 45:000$000.
Em
1912, caiu parte do altar-mor e forro da capela-mor e a igreja ficou abandonada
até 1920, retirando-se todos os Santos, inclusive a Nossa Senhora do Carmo,
Nossa Senhora do Monte Serrate e a de Nossa Senhora do Rosário, que são do
tempo dos Dantas. De 1920 em diante, vem-se conservando a Igreja. Em 1922 foi posto
todo o forro atual e revestido o piso com o ladrilho hidráulico existente que
veio substituir a antiga pavimentação feita com tijolos, digo de ladrilhos de
barro cozinho e em parte de madeira que achava estragados e que por diversas
vezes foram cortados para se abrir sepulturas. A escada externa foi modificada
em 1924. Em 1926 fizeram-se os muros entre as torres e as capelas laterais, e
os atuais altares. Em 1927 fizeram-se os forros da sacristia e nave principal.
Em 1935 foi feito o altar lateral fingindo mármore. Em 1934 existia portas de
comunicação entre a capela-mor e sacristia; foram retirados e abertos arcos.
Essas portas eram iguais às que dão para as capelas laterais. As paredes são de
pedra de mó e de junta seca.
O
entrevistador acrescenta:
Foi
o que disse e informou o Sr. Josias Melo. Em tempo, declarou, também, que em
1927, as antigas telhas canais foram substituídas pelas existentes do tipo
plano, francesas.
Em
1740, segundo vimos em Pereira da Costa, Piracuruca já era freguesia e seu
pároco era José Lopes Pereira.
Quando
em 1742, o bispo frei Manoel da Cruz visitava o Piauí, o removeu de Piracuruca
para a recém-fundada freguesia de Nossa Senhora do Poti (Rancho do Pato, mais tarde
Marvão), hoje Castelo do Piauí, com a obrigação de levantar a igreja paroquial
à custa da mesma freguesia.
Assim
parece que o padre José Lopes Pereira co-participou da edificação da igreja de
Piracuruca.
Por
essa época, o templo ainda não estava concluído, segundo informa Josias, mas
pouco restava a fazer, razão por que seu vigário recebera a incumbência de
levantar novo templo, o de N. S. do Poti. Já Pereira da Costa diz que nesses
dias teve início a construção da atual igreja de Nossa Senhora do Carmo,
entrando em discordância com Josias. Se em 1740 havia padre em Piracuruca, como
vigário, era porque havia igreja. Essa conclusão não admite controvérsia. Ainda
há, na tradição popular de Piracuruca, notícia de uma igreja velha.
Conta
o povo que a uma légua abaixo do local em que hoje se levanta a Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, à margem do Piracuruca, havia a igreja velha, donde fora
retirada a imagem da santa padroeira para a igreja nova, mandada construir
pelos Dantas.
Os
dois portugueses caíram em poder dos indígenas, às margens do Piracuruca, onde
fizeram sua promessa a uma légua de distância da primitiva capela e onde hoje
se levanta a igreja de Nossa Senhora do Carmo.
Ao
escrever seu Diário de Viagem (1728),
Maia da Gama informa que o mestre de campo já residia em seu novo quartel, à
margem do Parnaíba, donde melhor poderia vigiar os indígenas já pacificados e
numerosos no Maranhão.
Provavelmente
após 1713 abandonara sua fazenda, onde deveria estar a igreja velha, que
certamente cairia em ruínas com a edificação da nova igreja.
O
Diário de Viagem é de 1728, quando
toda a bacia do rio Longá estava completamente pacificada. A promessa dos
irmãos Dantas deve ter sido antes dessa data.
Certamente
despenderam algum tempo nos preparativos para o início da obra. Mas, não tanto
como faz supor Pereira da Costa. Há documento que informa foram à Portugal,
donde trouxeram operários mestres para a empresa. O documento é de 1881 e emana
de Gervásio de Brito Passos, presidente da Câmara Municipal de Piracuruca.
Maia
da Gama ainda conta que escreveu a Bernardo de Carvalho, pedindo que lhe
enviasse para a barra do Poti uma canoa que tinha em seu novo sítio, a fim de
conduzir para a barra do Parnaíba sua comitiva composta de familiares, do
secretário Manuel Rodrigues Tavares, do padre Manuel Simão Henriques e de
serviçais.
Ao chegar a Poti, já vindo de Mocha, encontrou
o mestre de campo em sua canoa. Para tão numerosa comitiva tornou-se necessário
fazer balsas de buriti.
Descendo
o Parnaíba ao sabor das águas, abasteceu-se na residência de Bernardo de
Carvalho, e em Santa Quitéria, um pouco abaixo, divide-se a comitiva. Seguem em
balsas e canoas a família e serviçais, até a vila da Parnaíba, fundada a mando
de Pedro Barbosa Leal, onde todos deveriam reunir-se.
Por
terra, a fim de visitar os Tremembés,
seguiram os outros, inclusive o mestre de campo que vai até mesmo o Ceará em
companhia de Maia da Gama.
Quando
na Descrição do padre Carvalho, às
margens do Parnaíba só havia dois currais, Santa Rosa, na bacia do Canindé, e
Sítio Real, na barra do Gurguéia.´
Já
Maia da Gama, trinta anos após, partindo da barra do Poti, para o delta
parnaibano, pernoitava em uma fazenda ou sitio povoado, e às vezes ia almoçar e
jantar noutros sítios ou fazendas, já também habitados.
Mais
promissor sempre foi o litoral. Assim, dentro em pouco, na vila Velha da
Parnaíba, estendiam-se os estaleiros de paus sobre forquilhas, prenúncios das
próximas charqueadas. Dali também partiam canoas a conduzir carnes para São
Luis e Belém do Pará, donde traziam as mercadorias contrabandeadas que seriam
vendidas no interior.
A
voz do sino duma ermida não muito tardaria a convidar aquela gente para, em
comunhão, celebrar a oração do dia.
Maia
da Gama, que visitava o Piauí, envaidecia-se de haver feito a pacificação nas
terras que agora percorria, esquecido de que mais fizeram os missionários, pela
persuasão, para reconduzir a indiada ao convívio religioso.
Vimos
que a igreja de Nossa Senhora da Vitória nasceu com os primeiros currais.
Agora, feita a pacificação e conquista do Longá, surge a igreja de Nossa
Senhora do Carmo. Dá-se, então, início à marcha para o litoral e à integração
do Vale do Parnaíba aos criatórios.
Quando
se lutava na pacificação dos índios e conquista do Longá, a Casa da Torre fundava um arraial às
margens do rio Gurguéia, caminho natural do rio São Francisco ao Itapecuru.
Esse reduto militar teve por objetivo policiar a região do sul do Piauí também
conflagrada pelos indígenas do São Francisco e Maranhão.
Após
a pacificação da indiada e a penetração dos currais em Pastos Bons, no Alto
Itapecuru, que ficava a meio caminho do Tocantins, os flecheiros da Casa da Torre
(os Jenipapos do grupo Cariri) seguem para Cajueiro (Jaicós),
provavelmente com o mesmo propósito de policiar a região.
Já
estavam franqueados os caminhos para São Luis. E também já se abriram os
caminhos para Goiás.
Recomeça
a expansão dos currais. Dentro em pouco, no delta do Parnaíba erguem-se as caiçaras para acolher a gadaria que se
trazia do sertão de dentro, para as charqueadas, cujos produtos eram vendidos
no litoral do norte e no litoral do sul do Brasil. Até mesmo para Portugal.
Os
vaqueiros vindos do recôncavo da Bahia alcançam enfim o Tocantins e os lençóis maranhenses.
Não
muito longe do litoral, defrontando a Ilha Grande, reanima-se a Vila Velha
fundada a mando de Pedro Barbosa Leal, absentista latifundiário, como seus
parceiros, também opressor dos desbravadores sertanistas.
Surgiram,
esparsos pelo vale do Parnaíba, novos povoadores, e se estabelece, em canoas e
botes, um pequeno comércio, o que já se fazia pelo interior em costas de
cavalos e de éguas.
O
principal produto era o sal trazido das salinas do litoral; mas já vinha também,
como vimos, outros produtos contrabandeados, especialmente do Maranhão e Pará.
Em troca, começaram, por esses escoadouros, a sair os produtos da terra,
especialmente provindos da pecuária.
(NUNES, Odilon.
Depoimentos Históricos. 2ª ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2015; p.
25-32).
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