segunda-feira, 22 de janeiro de 2018



Cultura, Memória e História em Pesquisa



LEONARDO CASTELO BRANCO

E O HISTÓRICO 22 DE JANEIRO DE 1823


Augusto Brito



         O dia 22 de janeiro, em Piracuruca, passou a integrar o calendário oficial das comemorações alusivas ao processo de adesão do Piauí à Independência do Brasil, por força do Decreto nº 12.824, exarado pelo Governo do Estado do Piauí, a 19 de outubro de 2007. 
        
         Quando o grito do Ipiranga, bradado a 07 de setembro de 1822, ecoou por todo o território brasileiro, encontrou algumas Províncias - Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Cisplatina - em situações políticas e militares no contraponto dos ideais de independência, defendidos pela maioria.
        
         Deve-se fazer constar, a bem da verdade, que, já há alguns anos, por conta de querelas regionais, as representações dessas províncias junto às Cortes Gerais de Lisboa vinham se posicionando, sistematicamente, contrários às causas nacionais e a favor dos interesses portugueses. O historiador e monsenhor campomaiorense Joaquim Chaves lembra-nos, ainda, que “Há muito que a posição geográfica do Piauí havia despertado a atenção do governo de Lisboa, para o caso de uma emergência. Prevendo que a independência do Brasil seria apenas uma questão de tempo, (...) o governo português planejara ficar com uma parte para ele, isto é, o norte, recriando o Estado do Maranhão que compreenderia as províncias do Pará, do Maranhão e do Piauí”.
        
         No ano de 1822, a Província do Piauí era administrada por uma junta de governo pró Portugal, eleita a 07 de abril. Compunha essa junta Matias Pereira da Costa (presidente), Francisco de Sousa Mendes e Joaquim de Sousa Martins. No posto de governador das armas se encontrava o sargento-mor João José da Cunha Fidié, nomeado por Carta Régia a 09 de dezembro de 1821.      
        
         Os principais líderes políticos da então Villa da Parnaíba, contrariando o governo de Oeiras, decidiram aderir à independência, a 19 de outubro de 1822. Dentre os insurgentes parnaibanos, achavam-se Simplício Dias da Silva, João Cândido de Deus e Silva, Joaquim Timóteo de Brito, José Francisco de Miranda Osório, Leonardo de Carvalho Castelo Branco e Raimundo Dias de Seixas e Silva.

         O governo da Província, tomando conhecimento da sublevação ocorrida na Parnaíba, providenciou o deslocamento de Fidié rumo ao norte, à frente de seu Batalhão de 1ª Linha e da Tropa Miliciana, com a finalidade de sufocar o movimento. A corporação portuguesa alcançou Campo Maior a 25 de novembro. Chegou a Villa da Piracuruca a 12 de dezembro, ali permanecendo um dia para o descanso das tropas. A 18 de dezembro, sem receber resistência, Fidié entrou na Parnaíba. Os principais líderes independentes locais, por se acharem despreparados militarmente, já haviam se refugiado em terras cearenses.

         Chegando a Sobral, Leonardo Castelo Branco e Miranda Osório (imagem acima/à esquerda) conseguiram arregimentar um contingente de cerca de 600 homens, dividindo-os em dois destacamentos. Á frente dessas forças, empreenderam marcha de retorno às terras do Piauí. Nas primeiras horas do dia 22 de janeiro de 1823, Leonardo Castelo Branco tomou a Villa da Piracuruca, fazendo prisioneiro um pequeno pelotão de soldados, ali deixados por Fidié, quando da sua passagem. Ao cair da tarde do mesmo dia, o ardoroso patriota Leonardo reuniu a população em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte do Carmo e procedeu, solenemente, à leitura de documento, proclamando a independência brasileira em território piauiense. Seguem-se trechos do referido manifesto, que o ilustre historiador piracuruquense Anísio Brito fez chegar até nossos dias através da obra “O Piauhy no Centenário de sua Independência”, editado em 1922:

         “Queridos irmãos que habitais as fecundas margens do caudaloso Parnaíba, por um e outro lado, dignai-vos atender às sinceras vozes de um Patrício vosso, que, todo, unicamente se dedica ao vosso bem presente e ainda mesmo no futuro.
         Até quando malignas e espessas nuvens ofuscam as luzes do vosso entendimento, pois vós sois brasileiros, e recusais obedecer ao Sr. Dom Pedro, Imperador Constitucional e seu Perpétuo Defensor?
         Não sois europeus e seguis o seu partido com perigo evidente da nossa vida e com perda da honra. Ah! Onde estão o brio e o patriotismo brasilieses; onde a honra e onde o dever?
         O meu coração se vê dilacerado pelo punhal da mais intensa dor!
         Irmãos, irmãos! Quereis ter a doçura que a força exigia de vós e por violência obtenha o que o dever, a honra e o patriotismo em vão, até agora, vos tem tão instante e cordialmente persuadido! A dor me embarga as vozes do sentimento, apenas respiro.
         Quereis que a vossa adesão à nossa santa e comum causa seja da força! Pois sereis satisfeitos, - Ei-la: ela se apresenta. Um pé de exército de quatro a seis mil homens vai fazer o mesmo em Campo Maior; há mais um corpo de observação para conter o inimigo, a quem inquieta com contínuas correrias pela costa. Todos eles trazem os petrechos de guerra e várias peças de campanha, que tornam mais terríveis suas forças. Além desses corpos, um batalhão ligeiro de índios e brancos de mais de 600 praças, destinado a cortar as relações do inimigo com o sul da província, ali plantou o seu quartel comandante pela voluntária reunião dos povos circunvizinhos.
         No curto espaço de três dias tem visto crescer o duplo de seus soldados.
         Obtida a possível reunião dessas forças mencionadas, seguros da vitória, marcharemos alegres a desalojar o nosso tirano déspota do seu último mal seguro asilo...
         (...) Concluída esta expedição, o que esperamos em brevíssimos dias, a não termos mais que fazer, exultando de gosto por sermos instrumentos da liberdade de nossos irmãos, cantando alegres hinos ao Senhor Deus dos Exércitos, entre os vivas e aclamações, ufanos entraremos em nosso País natal cheios de uma nobre e gloriosa vaidade. Estes são os nossos desejos.
         (...) Ah! Queridos e enganosos irmãos, que é o que temeis? E que é o que esperais? Temeis as forças do miserável Portugal esgotadas com as contínuas levas de soldados do sul do Brasil, onde todos têm sido sacrificados à deusa da Liberdade Brasiliense? Que esmaga suas cabeças com a mão armada do ferro com que pretendiam subjugar-nos?
         (...) Dezesseis províncias, desde o além Prata até os limites ocidentais do Ceará, todas a uma só voz, proclamam a liberdade e prestam gostosa obediência a D. Pedro.
         Não temeis essas forças, muito superiores às vossas, e, existentes no vosso próprio continente e confiantes e temeis as de Portugal tão remotas e apoucadas? Que estranha mania!
         (...) Quanto aos exemplos de consciência que estes senhores e outros iguais nos metem, não é mais que um pretexto próprio só para se enganar gentes rudes que ignoram a natureza dos contratos e que eles obrigam.
         (...) Que vos falta, pois, amados irmãos? Que vos impede os passos? Que vos prende a língua? Ai! Gritai comgo:
         Viva a nossa santa religião!
         Viva a futura Constituição Brasiliense!
         Viva a D. Pedro I, Imperador Constitucional do Brasil e seu Perpétuo Defensor!
         Viva a nossa santa Independência!
         Vivam todos os Brasileiros honrados, briosos e intrépidos!
Quartel de Piracuruca, a 22 de janeiro de 1823.
Leonardo de Carvalho Castelo Branco
Alferes Secretário da Divisão Auxiliadora do Piauí”.

         Depois de protagonizar o ato histórico em Piracuruca, de importância emblemática para o desfecho das lutas por nossa independência, Leonardo Castelo Branco rumou para Campo Maior, ali repetindo o mesmo ato, a 05 de fevereiro de 1823. Muitos dos soldados arregimentados por Leonardo Castelo Branco, porém, não prosseguiram com ele, debandando, em sua maioria, de volta para o Ceará. Dois dias depois da proclamação na Piracuruca, a junta de governo da Província foi derrubada. Oeiras, finalmente, aderiu à independência. Na Parnaíba, Fidié tomou conhecimento dos levantes ocorridos na Piracuruca, em Oerias e em outras vilas piauienses, decidindo retornar, imediatamente, à capital. Todo esse conjunto de fatores compôs o cenário sobre o qual se precipitaram o Embate da Lagoa do Jacaré, preliminarmente, e, depois, a Batalha do Genipapo, ocorridos nos dias 10 e 13 de março. Esses episódios - cada um em seu devido grau de importância - merecem ser contemplados, de forma específica, nos capítulos seguintes dessa História.

         A iniciativa da parte do Governo Estadual de resgatar e valorizar o manifesto pela independência proferido por Leonardo Castelo Branco, na Piracuruca, a 22 de janeiro de 1823, bem como de conceder, a título de reconhecimento, a Comenda da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí, a cidadãos piracuruquenses que têm contribuído, dentre outros feitos, com o engrandecimento da cultura, constituem-se em efetivos exemplos do que é possível e é devido realizar, por líderes e instituições, visando a manutenção da memória de uma sociedade, tornando evidente a necessidade de estabelecer, como bem cultural e moral de um povo, o exercício da liberdade, da igualdade e da democracia, em toda sua plenitude.



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Matéria veiculada em:

Coluna “Calidoscópio Cultural”, jornal Acesso Real, Ano II, nº 06, de 16 a 31.01.2008.
Coluna “O Mermorista”, site www.piracuruca.com, em 21.01.2008. 

 


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Memória Cronológica 



NA LINHA DO TEMPO 

30 de novembro 


Por: Augusto Brito 





Ano: 1948
Dia da semana: terça-feira

Durante a 39ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Piracuruca, procede-se a leitura do Ofício nº 59, de 29.11.1948, em que o prefeito municipal em exercício, Raimundo da Silva Ribeiro, que se encontra presente à sessão, solicita 60 dias de licença, “visto ter de ausentar-se da sede municipal”.
A Casa Legislativa delibera o pedido, por unanimidade, e determina oficiar ao vice-prefeito, José Lopes da Trindade, para assumir as funções do cargo.
Subscrevem a ata os vereadores: João Coelho de Brito (presidente), Felix Gomes do Amaral Filho (secretário), João Fortes de Almeida Portugal, Josias Gomes Fontenele e José Coelho de Brito.


Ano: 1956
Dia da semana: sexta-feira

A Câmara Municipal de Piracuruca, no expediente da 39ª sessão ordinária do ano de 1956, procede à leitura de telegrama enviado pelo então deputado federal Chagas Rodrigues (imagem à esquerda), em que comunica a aprovação, por parte do Congresso Nacional, de dotação orçamentária da República para 1957, destinada à construção de ambulatório para pescadores em Piracuruca e da rodovia Luis Correia-Piracuruca, dentre outras.
A sessão é presidida pelo vice-prefeito, Cícero Fortes de Cerqueira, e conta com a participação dos parlamentares: Antônio Rodrigues Magalhães, Francisco Machado de Sousa, João Fortes de Almeida Portugal, Olegário de Morais Machado e Waldemar de Morais Meneses.

Ano: 1976
Dia da semana: terça-feira

A junta apuradora da 21ª Zona da Justiça Eleitoral, Comarca de Piracuruca, sob a presidência do juiz eleitoral Aldemar Soares Lima, diploma os candidatos eleitos em 15.11.1976.

Ano: 1987
Dia da semana: segunda-feira

Criada a “Unidade Escolar Hesíchia de Sousa Brito”. A instituição municipal de ensino tem, inicialmente, o objetivo de promover o funcionamento do curso pedagógico.  

Ano: 2009
Dia da semana: segunda-feira

A Câmara Municipal de Piracuruca aprova a Lei Ordinária nº 1.626/2009, que disciplina a concessão de benefícios eventuais de assistência social, denominados: “Auxílio Natalidade”, Auxílio Alimentação”, “Auxílio Medicação”, “Auxílio Viagem” e “Auxílio Funeral”, no âmbito da administração municipal de Piracuruca.
A Câmara Municipal de Piracuruca aprova a Lei Ordinária nº 1.627/2009, que torna de utilidade pública a “Sociedade Esportiva Sete Cidades”, entidade sem fins lucrativos.






(BRITO, Augusto. Anotações para a Memória Cronológica de Piracuruca: uma contribuição para a pesquisa da história do norte piauiense).

Memória Cronológica 



NA LINHA DO TEMPO 

28 de novembro 


Por: Augusto Brito 





Ano: 1949
Dia da semana: segunda-feira

Na 76ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Piracuruca, registra-se que o prefeito municipal, Raimundo da Silva Ribeiro, apresenta requerimento solicitando 60 (sessenta) dias de licença, “a contar de primeiro de dezembro próximo, alegando imperiosos motivos”.
A Casa delibera e concede a licença solicitada, determinando que se oficialize ao vice-prefeito para que assuma o cargo na ausência do titular.
Subscrevem a Ata os vereadores: João Coelho de Brito (presidente), Felix Gomes do Amaral Filho (secretário), Josias Gomes Fontenele, José Coelho de Brito e João Fortes de Almeida Portugal.




Ano: 1965
Dia da semana: domingo

O médico, cientista e historiador piracuruquense Hermínio de Morais Brito Conde falece no Rio de Janeiro, vitimado por um infarto no miocárdio.








Ano: 1970
Dia da semana: sábado

A Justiça Eleitoral, 21ª Zona da Comarca de Piracuruca, sob a presidência do juiz eleitoral José de Anchieta Mendes de Oliveira, efetua a diplomação dos candidatos eleitos em 15.11.1970.






(BRITO, Augusto. Anotações para a Memória Cronológica de Piracuruca: uma contribuição para a pesquisa da história do norte piauiense).


domingo, 27 de novembro de 2016

Memória Cronológica

  


NA LINHA DO TEMPO 

27 de novembro 


Por: Augusto Brito 





Ano: 1721

Dia da semana: quinta-feira



Bartolomeu Gonçalves recebe carta de confirmação de data sesmaria de terras no Riacho da Cruz, “Certão do Alongares”, então freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Piracuruca, concedida em carta emitida em 16.10.1720, subscrita pelo governador e capitão general do Estado do Maranhão, Bernardo Pereira de Berredo. 
Nas primeiras linhas do documento, que contém o sinete de dom João, “el-Rey” de Portugal, pode ser lido:



[...] Dom João por graça de Deos [sinal público] Faço saber aos que esta minha Carta de Confirmação de datta de terra e Sismaria virem, que tendo Requerido a B.ar Glz me apresentar outra passada por Bernardo Pr.a de Berredo [...] pedidindome o dito B.ar Glz que porquanto lhe fizera merce em meu nome de tres Legoas de terra de comprido e hua de Largo [...] no Citio a que Chamão o Reacho da Cruz que faz barra no Rio o ccurrente que com meu nome lhe deu o dito Governador [...].



Ano: 1742

Dia da semana: terça-feira



Dom Frei Manuel da Cruz, bispo diocesano do Maranhão, ordena a expedição de transferência do padre José Lopes Pereira da então freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Piracuruca para a similar de Marvão (atual Castelo do Piauí), com a obrigação de levantar a igreja paroquial à custa dos fregueses.




Ano: 1914

Dia da semana: sexta-feira



Gerson de Brito Melo Boson nasce em Piracuruca, filho de Eugenilino Boson Dias e de Carlota de Brito Melo Boson.

Pelo costado materno, Gerson descende de Antônio de Morais Brito e Geracinda Rosa de Melo (avós), de Gervásio de Britto Passos e Carlota Maria de Moraes (bisavós), e de Pedro de Britto Passos e Anna Maria de Cerqueira (trisavós).









(BRITO, Augusto. Anotações para a Memória Cronológica de Piracuruca: uma contribuição para a pesquisa da história do norte piauiense).